Até um certo ponto, o Governo Lula manteve o distanciamento protocolar sobre essa questão polêmica do PL antiaborto. Hoje fomos informados que, diante da pressão das ruas e da sociedade civil, o próprio presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, considera a necessidade de analisar essa questão apenas no segundo semestre. Embora o proponente, o deputado Sóstenes Cavalcante[PL-RJ] não admita, ocorreu, na realidade, um recuou estratégico. Há muitas aberrações nesse PL, representando um grande retrocesso sobre o assunto, inclusive sobre conquistas femininas já previstas constitucionalmente. O danado é que a única coisa que ele admite rever diz respeito à pena do estuprador - que poderia aumentar - mas o cerne continua.
As manifestações de rua surpreenderam muita gente, inclusive por se saber que foram mobilizações encetadas por segmentos progressistas, mas à esquerda do espectro político, que se supunham adormecidos e paralisados. Curiosamente, no início, apenas o Ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, fez uma declaração pública sobre o tema. Posteriormente a essa fala, a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, também comentou o assunto, assumindo uma postura contra a PL 1904/24.
Durante a última campanha presidencial, em vários momentos, o presidente Lula foi instigado a se pronunciar sobre o assunto. Quando o fez, nos pareceu de forma infeliz. Numa sociedade extremamente polarizada, entende-se a situação delicada de se pronunciar sobre um assunto tão polêmico, sobretudo para quem ocupa um cargo público. Neste introito, usou-se muito o termo monstro das ruas, numa alusão a forma como um ex-Presidente da República, Juscelino Kubitschek, se referia à manifestações de ruas. Causou polêmica uma entrevista recente do presidente Lula, onde supõe-se que ele teria se referido aos filhos gerados pelo estupro como "monstros". Como este editor não acompanhou o vídeo, não podemos confirmar. Se ele afirmou isso, mas uma vez foi infeliz e a fala já está sendo solenemente explorada pelas hordas extremadas.
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