Uma ex-ilustre autoridade da República dos tempos do bolsonarismo - tempos sombrios que ainda não foram completamente banidos do país - teria afirmado que seria inútil investir em pobre e negros. Um daqueles cálculos neoliberais perversos, desprovidos de qualquer senso humanitário. Como não conseguimos encontrar uma fonte confiável que confirmasse tal declaração, vamos evitar mencionar o seu nome, eximindo-se, assim, a possibilidade de incorrermos na disseminação de fake news. O aludido poderia observar que suas palavras foram distorcidas ou retiradas indevidamente de um determinado contexto. Principalmente depois de percebida a infelicidade de seu teor, com os consequentes estragos produzidos daí decorrentes.
Por outro lado, o sociólogo que comenta o assunto é um intelectual de altíssima credibilidade acadêmica, profissional e política, daí entendermos que se trata de um comentário pruduzido por alguém que honra e faz jus às responsabilidades de suas credenciais. Soma-se a isso o fato de não nos surpreendermos com a afirmação, partindo de representantes dos estertores de um projeto de poder de cunho fascista, autoritário, embalado nas perspectivas genocidas que acompanham a sociedade brasileira desde tempos remotos, que assumiu um impulso extra durante a era bolsonarista. É bem a cara deles, como diria o comendador Arnaldo.
Como afirma o sociólogo Jessé de Sousa - que possui vários textos analisando a elite brasileira - a expressão traduz a essência de nossa elite insana, perversa e inconsequente, forjada em séculos de exploração da mão-de-obra escravizada. Uma burrice de consequências trágicas para o tecido social de nossa sociedade, refletindo a tragédia brasileira. Um desprezo gratuito ao miserável. O comentário do sociólogo encontra-se no seu perfil do Twitter. Quem tiver maior curiosidade em conhecer o autor da frase pode encontrá-lo por lá.
Aqui em Pernambuco há uma instituição que apresentou, ao longo de sua história, uma relação emblemática com cidadãos e cidadãs de perfil negros e analfabetos, que realizavam serviços menos complexos em suas dependências, como jardinagem, faxinas, serviço de transporte, preparo de cafés, entrega de documentos, entre outros. Apenas décadas depois de sua criação - possivelmente movida por ventos menos patrimonialistas, relativamente livre das amarras simbólicas do pai fundador - é que se esboçou uma preocupação republicana com a formação desse contingente de servidores, criando-se os mecanismos pelos quais eles pudessem ser alfabetizados.
Em alguns aspectos curiosíssimos, essa relação profundamente emblemática, torna-se suscetível de algumas leituras, sobretudo se considerarmos o padrão de relação daí estabelecidos entre a elite dirigente e tais segmentos de servidores. Outro aspecto não menos importantes é observar como a classe média branca, inseridas em atividades de pesquisas acadêmicas e sociais na instituição encararam essa convivência, ao longo de décadas, sobretudo quando se vislumbra a missão inerente do órgão, ou seja, estudar, pesquisar e propor soluções para os graves problemas das desigualdades regionais, principalmente nas regiões Norte de Nordeste do país, regiões que concentram os maiores índices de analfabetos do país.
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