Multidão acompanha enterro do poeta Pablo Neruda. |
No próximo dia 11 de setembro, estaremos completando 50 anjos do Golpe de Estado no Chile, trama política urdida ainda no ambiente nevrálgico da Guerra Fria, que contou com o aval do Governo dos Estados Unidos. Segundo consta dos anais da História, o então presidente Richard Nixon encomendou o golpe à CIA. O golpe derrubou o primeiro presidente socialista eleito através do voto popular, Salvador Allende, caso único no mundo. O Chile perpetrou, durante décadas, uma das ditaduras mais sangrentas do continente, que resultou em milhares de mortos, torturados e perseguidos políticos.
O processo foi tão abjeto e infame que reproduz seus reflexos de violência política até hoje no país. Em protestos populares, antes da eleição do candidato de centro-esquerda, Gabriel Boric, um colega professor, em visita àquele país, observou que os carabineiros - polícia muita ativa durante a ditardura - miravam sempre os olhos dos jovens ou as partes íntimas das mulheres. Alguns deles, atingidos pelas balas de borracha disparadas, perderam a visão nessas manifestações. Até recentemente, publicamos uma matéria numa de nossas redes sociais tratando da morte covarde do cantor popular Víctor Jara, cujas canções embalavam os protrestos contra a ditadura. Víctor também era professor, diretor de teatro.
Inimigo número um da ditadura de plantão, Víctor Jara foi preso, torturado, teve suas mãos esmagadas a coronhadas e depois foi assassinado com 42 tiros, dando a dimensão da insensatez de um regime autoritário. Vamos fazer uma confissão aqui para vocês. Acreditamos que nem o próprio Augusto Pinochet aprovaria uma atrocidade cometida com este requinte de crueldade. Certo estava Pedro Aleixo, parlamentar que afirmava que não confiava mesmo era no guarda da esquina, essa massa de manobra usada pelos de ditadores, embasados na permissividade dos regimes de exceção, que cometem seus crimes nos estertores dos regimes autoritários.
Curioso observar, entretanto, quando se comparam as experiências autoritárias do Chile, Argentina e Brasil, é que lá não houve anistia. A democracia, depois de restaurada, reuniu as condições institucionais de punir os violadores dos direitos humanos. O chefe da temida Dina - Direção Nacional de Inteligência - o general Juan Manuel Guillerme Contreras, foi condenado a quase 500 anos de prisão, a maior pena já aplicada a um cidadão(?) pela justiça daquele país. A Dina tinha absoluta autonomia para cometer seus crimes e violações de direitos humanos, prestando contas apenas ao general Augusto Pinochet.
Outro fato interessante é que eles foram capazes de conceber e manter instituições com o propósito de preservarem para as futuras gerações a memória daqueles dias de trevas, que precisam ser lembrados para não se repetirem. Muito feliz a edição da Revista dos Livros, Quatro Cinco Um deste mês, ao abordar o tema como "Memórias em Conserva". Por aqui, o que parece que ainda está em conserva são os arroubos ou impulsos autoritários, como este último do dia 08 de janeiro. No Brasil, infelizmente, o que se observa é que alguns governantes ainda insistem em prestar homenagens a esses algozes das instituições democráticas e violadores dos direitos humanos. Ontem li um parecer - penso que da AGU - onde se afirma a inconstitucionalidade de tal iniciativa. Insconstitucional e imoral. Registre-se.
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