Para setor de inteligência do Planalto, trabalhadores que se uniram a Eduardo Campos contra MP dos Portos podem decretar greve geral
04 de abril de 2013 | 2h 08
Alana Rizzo, de O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O Palácio do Planalto montou uma operação
para monitorar a movimentação sindical no Porto de Suape, em Pernambuco,
principal ponto de tensão entre a presidente Dilma Rousseff e o
governador Eduardo Campos (PSB). Coordenada pelo Gabinete de Segurança
Institucional (GSI) e executada pela Agência Brasileira de Inteligência
(Abin), a ação teve início há cerca de um mês.
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Possível candidato à Presidência da República no ano que vem, Campos
lidera o movimento opositor à medida provisória dos Portos, que, entre
outras mudanças, retira a autonomia dos Estados de licitar novos
terminais de carga. O governador pernambucano tem realizado uma série de
reuniões com sindicalistas. Na pauta dos trabalhadores está, inclusive,
a possibilidade de uma greve geral contra a medida.
A operação classificada como "Gerenciamento de Risco" foi
desencadeada no Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) e tem como
foco justamente essa possível greve geral. Por isso, o governo disparou a
operação para monitorar mais de perto os passos dos estivadores e a sua
capacidade de irradiar, a partir de Pernambuco, paralisações nos portos
brasileiros, algo que poderá trazer alto desgaste político.
A ação envolve uma equipe de infiltrados no Porto de Suape e a
produção de relatórios de inteligência repassados ao general José Elito
Carvalho Siqueira, que tem a atribuição de compartilhar informações
"sensíveis" com a Presidência da República. A prioridade dada ao caso
repercutiu na rotina do trabalho da Abin: os agentes envolvidos passaram
a ocupar uma sala separada na agência de inteligência.
Simultâneo. A cronologia da operação é simétrica à
movimentação política de Campos contra a MP dos Portos. No início de
março, o governador se encontrou com a direção da Força Sindical. Na
semana anterior, já tinha se reunido com a Intersindical Portuária de
Pernambuco, composta pelos sindicatos dos Estivadores nos Portos; dos
Trabalhadores Portuários; dos Arrumadores Portuários; e dos Conferentes
de Carga e Descarga. Um governador do PSB, aliado de Campos também na
oposição à MP, tem dito nos bastidores que o colega "pode parar o Brasil
e o governo sabe bem disso".
Um mês antes de deflagrada a operação em Suape, portuários de Santos
chegaram a invadir um navio chinês para protestar contra a MP. O
episódio, porém, não alterou a rotina do GSI. O maior porto brasileiro
continuou a ser monitorado superficialmente pela inteligência do
governo, "etiquetado" junto com os movimentos sociais na operação
Mosaico - um painel eletrônico e atualizado diariamente com 700
cenários. As informações da Mosaico não são sigilosas e servem apenas
para orientar a presidente e alguns ministros.
Embate público. Na semana passada, o governador de Pernambuco
protagonizou um embate com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, em
audiência da Comissão Mista do Congresso que debatia a MP dos Portos.
Campos chegou a sugerir a retirada do Porto de Suape da abrangência da
MP, algo rechaçado pela ministra de Dilma.
Interesses. Enquanto o interesse de Campos é manter a
prerrogativa de realizar, como governador, as licitações de novos
terminais, o interesse dos trabalhadores é focado na perda do monopólio
sobre a mão de obra habilitada a trabalhar nos portos. Trata-se de uma
das mudanças mais radicais contidas na MP dos Portos.
Diante da iminente perda de força, os sindicatos logo se manifestaram
de forma contrária às mudanças, em movimento capitaneado pela Federação
Nacional dos Estivadores. Filiada à Força Sindical, a segunda maior
central do País, a federação viu sua bandeira ser alçada a debate
nacional quando o presidente da Força Sindical, o deputado federal Paulo
Pereira da Silva, o Paulinho da Força (PDT-SP), fez a oposição à MP. A
medida ainda está sendo analisada pelas comissões do Congresso e precisa
ser aprovada pelos plenários da Câmara dos Deputados e do Senado.
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