Em 1973, no bojo de um golpe de Estado que derrubou o Governo de Salvador Allende, legitimamente referendado nas urnas pelos eleitores, um grupo de economistas formados em academias americanas implentaram no Chile um verdadeiro laboratório de experimentos de políticas neoliberais, com reflexos na redução de direitos trabalhistas previdenciários da população, privatizações de setores estratégicos, enxugamento na gestão pública - com o pomposo nome de reforma administrativa - além de outros receituários bem conhecidos, logo igualmente reproduzidos em outros países latino-americanos. À época, para o país credenciar-se a receber créditos internacionais, tinha que seguir a cartilha, como uma espécie de garantia, assim como ocorre com os bancos, quando cencedem algum empréstimo ao cidadão.
Alguns analistas sempre enfatizam essa primazia de entrada das políticas ultraliberais no continente latino-americano pela porta do Chile. Os reflexos são sentidos até hoje, quando tomamos como referência, por exemplo, o acesso da população à insumos básicos, como água potável. Politicamente, atráves da eleição de Gabriel Bóric, a população do país deu uma resposta nas urnas aos desmandos produzidos durante anos por essa política neo ou ultraliberal, com resultados caóticos para alguns segmentos sociais. Em algumas regiões do Chile, a água disponível é utilizada para irrigar plantações de abacate, enquanto a população é privada do precioso líquido.
As pessoas se mobilizam, vão às ruas, são cegas pelos carabineiros - movidos ainda pela sanha da perversão adquirida durante os anos de chumbo da ditaduta militar - mas, a realidade continua difícil, uma vez que a extrema-direita do país mantém a sua capilaridades social e política, capaz de impor algumas derrotas ao presidente de centro-esquerda. O Chile faz um governo de concertação, por vezes cedendo perigosamente à agenda de ultradireita. Como se sabe, Gabriel Boric teve uma eleição apertada, assim como Lula aqui no Brasil, que hoje enfrenta problemas semelhantes com a ruidosa oposição bolsonarista.
Quase cinco décadas depois, eis que aparece no país andino uma espécie de besta fera do apocalipse ultraliberal, prometendo radicalizar no emprego desse receituário. Mesmo antes de tomar posse, já antecipou que pretende usar a motosserra para privatizar a estatal de petróleo argentina, além de tudo que for possível. A conta aqui é simples: não vai sobrar nada.
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