publicado em 10 de maio de 2013 às 23:58
por Luiz Carlos Azenha
O agora deputado estadual Adriano Diogo era estudante de Geologia da
Universidade de São Paulo quando foi preso pela Operação Bandeirante em
23 de março de 1973.
Estávamos na ditadura militar, no governo do general Garrastazu
Médici. Na rua Tutóia, em São Paulo, sede da OBAN/Destacamento de
Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna
(DOI-CODI), reinava o major do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Dias antes da prisão de Diogo, o estudante de Geologia da USP
Alexandre Vannuchi Leme, de 22 anos de idade, tinha sido levado ao
centro de torturas.
Do livro Direito à Memória e à Verdade, escrito pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos:
“O universitário Alexandre Vannucchi Leme, conhecido como Minhoca,
foi enterrado sem caixão em uma cova rasa do cemitério de Perus, forrada
com cal para acelerar o processo de decomposição e encobrir as marcas
de tortura que motivaram sua morte. As versões contraditórias de
suicídio com lâmina de barbear, apresentada pelos agentes do DOI-CODI
aos outros presos políticos, e a de atropelamento durante fuga,
divulgada publicamente, foram desmascaradas. Um grupo de nove presos
políticos testemunhou na própria Justiça Militar as torturas a que foi
submetido o estudante, nos dias 16 e 17/03/73, por uma turma de pelo
menos 13 agentes daquele órgão”.
Segundo Adriano Diogo, quem supervisionava tudo era Ustra. Revoltado
contra os protestos de estudantes da USP, que ajudaram a organizar uma
missa de sétimo dia para o colega Vannucchi Leme, rezada pelo cardeal de
São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns — um dos principais adversários da
ditadura, então — Ustra mandou prender outros 40 estudantes da
universidade, dentre os quais o hoje deputado estadual do PT paulista,
que era colega de classe de Alexandre.
Diogo diz que encontrou Ustra muito nervoso: “Tirou o capuz e falou:
Acabei de mandar o Minhoca para a Vanguarda Popular Celestial. Você vai
ser o próximo”. Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) era o nome de um
dos grupos da resistência (Vannucchi era ligado à ALN, Ação Libertadora
Nacional).
“Ele é um assassino confesso, ele é um dos maiores verdugos da
História do Brasil”, diz o deputado que preside a Comissão da Verdade
Rubens Paiva na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Ivan Seixas, ex-preso político, também torturado pessoalmente por
Ustra, confirma que encontrou Adriano Diogo em condições deploráveis na
OBAN.
O próprio Diogo diz que deu entrada às duas da tarde na chamada cela
forte e foi torturado na cadeira de dragão até as quatro da manhã do dia
seguinte.
Amarrado, recebeu choques elétricos em todo o corpo.
Ao depor ontem na Comissão Nacional da Verdade, em Brasília, o
coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra disse que combateu o
terrorismo, que evitou a instalação do comunismo no Brasil e citou
quatro grupos dos quais teria participado a hoje presidente Dilma
Rousseff. Ustra foi confrontado pelo vereador paulistano Gilberto
Natalini, do PV, outra de suas vítimas.
– Eu não faço acareação com terrorista.
O presidente da Comissão da Verdade [da Câmara Municipal] de São
Paulo, que estava na plateia, prontamente se levantou, apontou o dedo
para Ustra e gritou:
– Eu não sou terrorista. Terrorista é você!
No vídeo acima, Adriano Diogo dá detalhes da tortura a que foi
submetido e fala sobre o papel de Ustra. O vídeo termina de forma
abrupta quando o deputado listava as mortes que aconteceram enquanto
estava preso e que podem ser diretamente atribuídas a Ustra: teriam sido
pelo menos cinco apenas naquele período, incluindo a de Alexandre
Vannuchi Leme.
Na entrevista, Adriano Diogo lamenta apenas que a convocação de Ustra
não tenha sido precedida de um levantamento completo de todas as ações
criminosas que podem ser atribuídas a ele.
A OBAN, que formalmente antecedeu o DOI-CODI, foi financiada e
apoiada por empresários brasileiros e aglutinou órgãos de repressão de
diversas esferas, que aplicaram técnicas de tortura difundidas pelos
Estados Unidos para defender a ditadura militar que derrubou o governo
constitucional de João Goulart em 1964.
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