Ok, eu sei que parece tentador uma vida de
regalias, especialmente para quem não está acostumado com isso. Muitas
vezes gestores de primeira viagem – e muitos até já experientes –
sucumbem a uma mordomiazinha. Quando ela é garantida pelo cargo, vá lá.
Mas quando extrapola os limites do cargo e do bom senso, alguém tem que
investigar.
O prefeito de João Pessoa foi flagrado num acesso de deslumbre.
Pegou carona em avião particular com destino a Salvador para assistir a
uma prova da Stock Car. Pode parecer inocente, mas o gestor público tem
que manter distância – pelo menos aparente - de qualquer empresário que
receba algum tipo de verba pública ou outro benefício, como isenção de
taxas ou impostos. Pegar carona em carro particular para uma visitinha
ao interior já não é recomendável. Em jatinhos para fora do Estado,
piorou. Não há explicação que convença da suposta inocência do gesto.
Até porque empresário nenhum faz uma cortesia assim sem qualquer
intenção embutida.
O prefeito pisou na bola e agora seus assessores não sabem o que
fazer para desmanchar a lambança, que ficou pior na tarde desta
quarta-feira, quando o blogueiro Luiz Torres denunciou que o empresário
Eduardo Carlos, um dos supostos donos do avião, lhe teria feito ameaças
através de um amigo em comum. Se o “amigo” foi mesmo um enviado do
empresário, ou se apenas tentou, por conta própria, aparar arestas ou
agradar a A ou B, não se sabe ao certo. De qualquer forma, foi lambança
das grandes. O empresário Júnior Evangelista está sendo apontado como
outro possível proprietário da aeronave. Evangelista é dono de cartório.
E o prefeito perdoou juros e multas em atraso dos cartórios sobre
impostos acumulados há cinco anos. Aliás, isso é tema de outras (mais
densas) análises políticas.
A história recente recomenda cautela. Em 2009 o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, utilizou um avião particular para uma viagem ao Maranhão e se enrolou todinho para explicar o inexplicável. ““Eu não disse que não andei na aeronave. O que eu disse foi que nunca andei na aeronave pessoal dele [de Adair Meira]“. Ôxe! Alguém entendeu alguma coisa? O jatinho, para quem esqueceu a história, seria de propriedade de um dirigente de ONG que mantinha convênios com aquele ministério.
A história recente recomenda cautela. Em 2009 o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, utilizou um avião particular para uma viagem ao Maranhão e se enrolou todinho para explicar o inexplicável. ““Eu não disse que não andei na aeronave. O que eu disse foi que nunca andei na aeronave pessoal dele [de Adair Meira]“. Ôxe! Alguém entendeu alguma coisa? O jatinho, para quem esqueceu a história, seria de propriedade de um dirigente de ONG que mantinha convênios com aquele ministério.
No ano seguinte, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo,
teria usado avião de uma empreiteira responsável por uma obra rodoviária
do governo federal no Paraná. A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi
Hoffmann, então pré-candidata ao Senado pelo Paraná, também teria
viajado no mesmo jatinho. Os dois negaram, mas ninguém se convenceu.
A Câmara Municipal quer investigar a viagem. E deve ir fundo na
questão. A explicação de que o prefeito também articularia, em Salvador,
a realização do evento da Stock Car em João Pessoa foi divulgada pela
assessoria como se isso, por si só, justificasse a graciosa carona. Não
justifica. Não cola. Melhor ir pensando em uma desculpa menos
esfarrapada. Ou, simplesmente, em pedir desculpas à população.
Giza Veiga, www.politicapb.com.br
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