Além de fazer articulações junto a partidos que
possam apoiar os seus planos de concorrer ao Planalto em 2014, o
governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), tenta acalmar os ânimos
internos da legenda; nesta semana, ele jantou com o ex-ministro Ciro
Gomes (PSB-CE), uma das principais vozes contrárias à uma candidatura
própria por parte do PSB, e tem acompanhado de perto a escala da
aproximação do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho
(PSB-PE), junto ao PT; se a "operação abafa" dará certo ou não somente o
tempo dirá, mas a engrenagem da estratégia para selar a paz interna já
foi acionada
Paulo Emílio_PE247 - O governador de Pernambuco ,
Eduardo Campos (PSB) não anda articulando sua potencial candidatura
somente junto a partidos que podem garantir o apoio necessário aos seus
planos de concorrer ao Palácio do Planalto em 2014. As novas costuras
visam a acalmar os ânimos internos da sua própria legenda de maneira a
garantir que as suas movimentações transcorram de forma tranquila, sem
que haja o risco de ser alvo frequente do chamado fogo amigo. Nesta
linha, Campos jantou esta semana com um dos maiores críticos aos seus
planos majoritários, o ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE), e tem deixado o
ministro da Integração Nacional (PSB-PE), Fernando Bezerra Coelho, à
vontade para fazer demonstrações de apoio ao governo e ao projeto de
reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). Nesta direção, a
engrenagem da estratégia para abafar o que pode virar uma crise interna
de grandes proporções, o que inclui um racha no PSB, já está em
movimento.
O coro da contrariedade, iniciado por Ciro e pelo irmão e governador
do Ceará, Cid Gomes, foi engrossado por FBC, que passou a defender
abertamente que o PSB permaneça na base de apoio do governo Dilma, bem
como a reeleição da presidente. Nas últimas semanas diversos
governadores pessebistas também passaram a afirmar que o PSB deve apoiar
a reeleição de Dilma e lançar um candidato próprio à Presidência
somente em 2018. A mudança de postura dos governadores é atribuída às
pressões que os gestores estariam sendo submetidos – o que incluiria
dificuldade para firmar convênios e obter recursos federais – com o
objetivo de fazer com que o PSB desista de seus planos nacionais.
O governador sabe que será o alvo da vez por parte dos petistas que
já o acusam de traição por querer romper com uma aliança histórica entre
as siglas. Tanto Dilma como o ex-presidente Lula tem observado as
movimentações de Campos sem tomar nenhuma decisão intempestiva, uma vez
que isto poderia ser utilizado por Campos como o mote para sair da base
governista como vítima de uma injustiça, já que o PSB permanece na base
aliada e é uma peça importante nas votações de interesse do Governo no
âmbito do Congresso. A opção escolhida foi tentar sangrar o PSB por
dentro, aproximando-se do clã Gomes no Ceará e acenando ao ministro FBC a
possibilidade de disputar o governo de Pernambuco, por alguma outra
sigla da base que não o PSB.
E é aí que a movimentação de Campos faz sentido. Ciro é uma das
principais vozes contrárias á postulação do gestor pernambucano. O
jantar que ambos tiveram no Rio de Janeiro no início desta semana teria o
objetivo de tentar selar a paz entre eles, que se cutucam mutuamente há
bastante tempo. Campos confirmou o encontro, mas limitou-se a dizer
que “o jantar foi muito bom, muito positivo… Falou sobre Brasil, sobre
caminhadas , sobre a economia, sobre muitas coisas”.
O que Campos não deseja é dar motivos para o correligionário romper
com o partido e ingressar em alguma outra legenda, o que enfraqueceria o
seu palanque no Nordeste, em especial no Ceará, e fortaleceria o da
presidente Dilma. É no Nordeste que tanto o PSB como o PT possuem o seu
maior capital político e a influência de Ciro e Cid Gomes podem influir
significativamente na balança eleitoral da Região.
Sobre FBC, tanto Campos quanto a direção do PSB têm observado de
perto as movimentações do ministro que se aproxima cada vez mais do PT.
Embora afirmem que o PSB é uma legenda democrática e que todos podem
expressar suas opiniões, a saída do ministro já é tida quase como uma
certeza por parte da cúpula socialista. FBC tem demonstrado sua
insatisfação pelo fato de até agora Eduardo não ter feito nenhum gesto
de que será ele o escolhido para disputar a sucessão estadual. E é esta
insatisfação vem de longa data.
Quando Eduardo campos candidatou-se pela primeira vez ao Governo de
Pernambuco, foi FBC quem articulou o apoio dos prefeitos do Sertão do
Estado à sua postulação. Em troca esperava ser ungido ao Senado, mas
acabou preterido quando Eduardo optou por apoiar as candidaturas de
Humberto Costa (PT) e Armando Monteiro Neto (PTB). Após a reeleição do
gestor ao Palácio do Campo das Princesas, FBC depositou suas esperanças
em ser o escolhido pelo governador para sucedê-lo, o que até agora não
aconteceu.
Nesta linha, parte do PSB avalia que não existe ‘dívida de gratidão’ a
ser quitada, uma vez que Campos levou FBC a se tornar ministro da
Integração Nacional, uma pasta estratégica tanto pelo volume de recursos
que possui como pela atuação no sertão Nordestino – com obras como a
Ferrovia Transnordestina e a Transposição do Rio São Francisco. Como é
no Sertão pernambucano que FBC concentra a sua força política, esta
dívida já estaria mais do que bem paga, segundo alguns pessebistas.
E apesar dos constantes recados e sinais de insatisfação por parte do
ministro, Campos tem optado por deixar FBC dizer o que pensa. Ao optar
pelo silêncio em torno da sucessão estadual e afirmar que tanto esta
decisão como a de que será ou não candidato ao Planalto somente será
definida em 2014, Campos evita que FBC venha a sair como vítima de um
processo de fritura interna.
Além deste ponto, a insatisfação de FBC encontra eco principalmente
no Sertão pernambucano, enquanto a de Ciro costuma reverberar em nível
nacional. Como Campos deseja concorrer ao Planalto, a prioridade é
abafar a voz de maior alcance. Neste caso, o jantar entre Ciro e Eduardo
é emblemático. Para a voz mais localizada de FBC, a opção foi adotar
praticamente a mesma estratégia que o PT adotou com o PSB: não dar
motivos para um rompimento de forma a ser acusado de vitimizar o
ministro até a sua saída da legenda.
Mas se esta estratégia servirá para acalmar Ciro e Cid Gomes, segurar
FBC no partido e minimizar o tom das críticas contra o projeto nacional
do PSB, somente o tempo dirá. E o próprio Eduardo conta com o tempo
para acalmar os ânimos internos e estabelecer o consenso em torno da sua
postulação. “O partido vai ficar unido na hora que a decisão for
tomada", disse.
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