Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Volta e meia sai uma pesquisa registrando índices de
popularidade inéditos para a presidente Dilma Rousseff, em geral seguida
de outra informando que, "se a eleição fosse hoje", ela estaria
reeleita. No primeiro turno.
A mais recente, encomendada pelo PSDB, coincide com os dados
divulgados pelo Ibope em março: Dilma tem 53% das intenções de voto.
Isso em cenário de múltiplas candidaturas adversárias. Segundo o Ibope, a
presidente teria 58% enfrentando três oponentes e 60% se os desafiantes
forem apenas dois, Marina Silva e Aécio Neves.
Visto assim do alto, o quadro é extremamente favorável à presidente.
Ainda mais se considerados dados do Ibope sobre as intenções de voto de
Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio da Silva em 1998 e 2006, anos
das respectivas reeleições.
FH tinha 25% na pesquisa espontânea e Lula, 27%. Nesse tipo de
consulta em que não é apresentada ao pesquisado uma lista de nomes,
Dilma apareceu com 35% em março último.
Mas há diferenças significativas. A antecedência da consulta, por
exemplo. O índice de Lula foi medido seis meses antes da eleição, o de
Fernando Henrique, três meses e o de Dilma, um ano e meio antes.
Na época, Lula estava às voltas com o escândalo do mensalão. FH
enfrentava turbulências sérias na economia e na política, pois perdera a
majestade com o esforço para aprovar a emenda da reeleição no ano
anterior e sua base de sustentação no Congresso dava sinais graves de
desgaste que viria a se consolidar depois no afastamento do então PFL
(hoje DEM) e na dispersão do PMDB.
Ainda assim foram reeleitos. O tucano em primeiro turno com 53,06%
dos votos e o petista no segundo, com 60,83%. Ponto a favor de Dilma?
Não necessariamente.
A presidente em tese vive circunstâncias mais vantajosas: não tem
oposição forte como tinha o tucano, não está na administração de um
escândalo das proporções do mensalão, vive em campanha eleitoral aberta
no pleno uso da máquina estatal, em suma: joga sozinha e com as
"brancas".
Nessas condições, 53% de intenções de voto não é grande coisa: o jogo
ainda não começou para valer, a economia patina, as insatisfações se
explicitam nos setores mais diretamente interessados (empresariado e
políticos) e a imagem de grande gestora e governante austera vai batendo
de frente com a realidade de resultados parcos e fisiologismo
deslavado.
Se o cenário não sinaliza perda do favoritismo, tampouco desenha vitória no primeiro turno.
Ética temporã. A Comissão de Ética Pública da Presidência da
República vai examinar o caso do acúmulo de funções do ministro da Micro
e Pequena Empresa, o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif
Domingos, no próximo dia 20.
Duas semanas depois de oficializada a escolha. O natural seria que a
questão tivesse sido analisada (e resolvida) antes da nomeação e não
depois da enxurrada de questionamentos.
Para lembrar dois exemplos em que isso foi feito a tempo e a hora em
governo do PT. Gilberto Gil só aceitou o ministério da Cultura mediante
sinal verde da Comissão de Ética em relação às suas atividades
artísticas. Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, passou a administração de
seus bens para uma instituição financeira e se desfez das cotas de seu escritório de advocacia, em operação aprovada previamente pela Comissão.
A propósito: a presidente disse ontem que Afif é a pessoa certa no lugar certo. Pode até ser, mas do jeito errado.
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