pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO: Estoicismo, fisiologismo e ignorância, artigo de Carlos Chagas.
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sexta-feira, 17 de maio de 2013

Estoicismo, fisiologismo e ignorância, artigo de Carlos Chagas.

ESTOICISMO, FISIOLOGISMO E IGNORÂNCIA

Por Carlos Chagas


                                               Estoicismo, obstinação e sacrifício podem definir a longa sessão de quase 23 horas na Câmara dos Deputados, encerrada às 10 horas da manhã de ontem. No reverso da medalha,  verificou-se fisiologismo, radicalismo e ignorância.
                                               Estoicismo por parte do presidente da casa, Henrique Eduardo Alves, que presidiu os trabalhos sem ausentar-se um minuto sequer, engolindo sapos e distribuindo gentilezas, tudo na determinação de ver aprovada a Medida Provisória dos Portos e cumprir seu pacto de lealdade para com o governo Dilma.
                                                  Obstinação dos líderes da base parlamentar do governo em não ceder às manobras de obstrução das oposições.
                                                    Sacrifício feito pela maioria dos deputados que apóiam o palácio do Planalto, permanecendo em vigília por quase um dia, sem arredar pé do plenário. E isso depois de terem passado em claro a madrugada da véspera, quando se iniciaram os debates. Em suma, 36 horas sem dormir.
                                               Agora, fisiologismo aos montes, tanto por parte daqueles deputados sem nome, moradores dos grotões, que deram ao governo o troco por não terem atendidos seus pedidos de liberação de verbas, assim como pela falta de consideração da presidente Dilma para com eles.
                                                 Radicalismo das oposições que quase conseguiram obstar a aprovação da MP, dizendo-se em obstrução e não aceitando entendimento com as bancadas oficiais.
                                                E ignorância  do governo e seus coordenadores políticos, infensos a entender-se com os grupos descontentes de sua própria base parlamentar e, mais do que isso, fornecendo aos jornais de ontem manchetes como a de que o Executivo estava pronto para vetar  artigos do texto a ser aprovado, mesmo sabendo provir de amplo acordo entre os partidos que o apóiam.

UM ALERTA, QUASE UM ULTIMATO

                                               Terá  sido a última vez em que a presidente Dilma saiu vitoriosa na Câmara, se não mudar de estratégia no trato com os deputados de sua base. Grande foi a reação do PMDB, seu braço de apoio, diante do descaso com que é tratada a maioria das  bancadas do partido.  Some-se os deputados de outros partidos, também descontentes e se verá nos números a evidência dessa rebelião quase vitoriosa. Entre 513 deputados, são 410 aqueles  nominalmente governistas, mas muitas mágicas precisaram ser feitas para que 257 deles formassem o quorum imprescindível à aprovação da redação final da Medida Provisória. O presidente Henrique Alves precisou esticar a sessão,  permitindo discursos longos e inócuos dos líderes, para dar tempo aos  deputados da base que em sinal de protesto  tinham ido  para casa dormir.   Foram acordados e cederam  a apelos para retornar e dar número. Basta fazer a conta e ver que o Executivo não contará mais com  153 partidários, caso não altere seu relacionamento com o Legislativo.

QUEIXAS E ACUSAÇÕES

                                               Foram numerosas as agressões trocadas entre deputados da oposição  e da base oficial, com ênfase para o entrevero entre Anthony Garotinho, do PR, e Ronaldo Caiado, do DEM, sem esquecer que o primeiro acusou o PT e o governo  de aprovarem um texto que beneficiaria o empresário Daniel Dantas. Mesmo assim, no final,  Garotinho alinhou-se à corrente oficial.
                                               Houve até deputado que acusou a bancada da  maioria de “mulher de malandro, aquela que gosta  de apanhar”, por conta da humilhação de ceder ao autoritarismo governamental. Durante a maior parte  das 23 horas de debates foi rotina o  desrespeito entre os oradores, situação apenas esmaecida quando ficou claro, na última votação, que a MP seria aprovada.  No fim, para situação e oposição, tudo não passou de uma demonstração de que a democracia funciona entre nós.

BAIXARIA

                                               Para quem acompanhou tantas horas de discursos e firulas regimentais, saltou aos olhos um  expediente ridículo e histriônico adotado por montes de deputados, que interrompiam oradores e até o presidente da Câmara para agarrar um dos microfones de aparte e gritar que “aqui fala o deputado Fulano de Tal, para registrar que votou com o seu partido”. Ora bolas, se votaram, o painel de votações registrou e o Diário do Congresso publicará.  Na verdade, essas centenas de intervenções deviam-se apenas ao desejo desses mal-educados de aparecer na TV e na Rádio-Câmara.  A partir de uma certa hora o presidente Henrique Alves passou a desconhecer e até a desprezar essas grosseria, sem sequer agradecer pela comunicação.  Essa prática tem-se repetido há anos, mas nas  madrugadas de quarta-feira e de ontem, multiplicaram-se. Uma lástima.

SENADO OU APÊNDICE?

                                               A Câmara  levou os dias que quis, ou que pode, para aprovar  a Medida Provisória, sendo a decisão levada por volta do meio-dia de ontem para o Senado, o qual, humilhantemente, dispunha de apenas 12 horas para discutir e votar o texto, sob pena dele caducar, frustrando os interesses do governo. Transformados em apêndice desimportante  dos deputados, os senadores precisam tomar cuidado para que não germine outra vez a teve do unicameralismo no país. 

(Publicado originalmente na coluna do jornalista Cláudio Humberto)  

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