O termo cognição aqui está sendo empregado no sentido da utilização de nossos recortes mentais para entendermos determinados fatos e não se traduz em qualquer juízo de valor. A CPI do MST, a julgar pela maioria dos seus membros, possui uma percepção já consolidada, inclusive aprioristicamennte, sobre o papel do Movimento dos Trabalahdoes Sem Terra. O relatório é algo dos mais previsíveis. Essa "percepção da realidade" foi muito enfatizada pelo convidado que falou no dia ontem naquela comissão, José Roberto de Souza, professor titular da UnB, que chegou a alguns momentos de substantivas discordâncias com o relator, o Deputado Federal Ricardo Salles, e com alguns membros do núcleo hegemônica daquela comissão.
Bastante preparado, o professor trouxe reflexões das mais importantes ao debate, seja do ponto de vista jurídico, seja do ponto de vista filosófico. Muita enriquecedora a sua explanação, pois desconstruiu alguns pressupostos que norteam a visão obtusa que alguns parlamentares que integram aquela comissão possui sobre o MST. Dentro de uma lógica marcadamente de caráter neoliberal, eles enfatizam muito a questão dos resultados econômicos da reforma agrária no Brasil, apresentando-a como um mau negócio, sem se preocuparem com outros fatores, igualmente importantes, que envolve essa questão. Neste sentido, o professor observou que Salles bem que poderia está ocupando a cadeira do presidente do Banco Central.
Um outro viés é o de tentar criminalizar as ações do movimento, taxando-as como "invasão", quando, até o judiciário, segundo apontou o professor, entende que o termo correto seria "ocupação". Aliás, o termo "ocupação" tem origem em discussões do próprio judiciário. Com bons argumentos, baseados em teorias consistentes, o professor fez uma verdadeira viagem pelo campo da sociologia, da política e da filosofia. Lembrou dos achaques que o educador Paulo Freire sofre no país, quando é exaltado em todos os recantos do planeta. Como observava Vitor Nunes Leal, séculos se passaram e continuamos a ser um país de concessão de favores e não de reconhecimento de direitos.
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