Depois das eleições, bastante abalado com o resultado apontado pelas urnas, o presidente Jair Bolsonaro, como se diz aqui no Nordeste, se recolheu aos seus aposentos. Váris versões surigiram em torno do assunto, sempre emitidas pelos seus assessores mais diretos. O fato concreto é que ele ficou psicologicamente abatido, a julgar pelo semblante apresentado em público e o diagnóstico de alguns profissionais da área de psicologia, mesmo que diante de avaliações não presenciais. Seria perfeitamente compreensível, dentro do razoável, embora fosse de bom alvitre o reconhecimento da vitória do adversário, assim como tocar a bola para frente.
O que não nos parece razoável é os seus grupos de apoiadores tentarem interpretar a sua fala recente, quando ele voltou ao diálogo com os apoiadores no chamado "cercadinho". A fala do presidente é uma narrativa enigmática em todos os sentidos, discurso construído com várias pausas, mas nos chamou a atenção a utilização do termo socialismo, em seguida enfatizando a tese de que as Forças Armadas poderiam abortar a sua implantação no país. Trata-se de uma tese surrada, ainda da década de 60 do século passado, quando as ideias de uma sociedade socialista ainda estavam em voga. A utopia ainda não está morta, mas hoje repousa apenas sobre as reflexões dos estudiosos do assunto, circunscrita ao circuito acadêmico, com as várias revisões impostas pela experiência histórica.
Os militares que ocuparam o poder no país, após o Golpe Civil-Militar de 1964, sempre contaram com o apoio de um verdadeiro estrategista político, que possuia uma fenomenal biblioteca e lia os textos sempre no original, pois desconfiava das traduções. Estamos nos referindo aqui ao general Goubery do Couto e Silva, um dos artífices do processo de reabertura política, a partir da década de 80. Com as mobilizações sindicais daquela década, assim como a fundação do Partido dos Trabalhadores, setores militares temiam muito sobre o então líder Luiz Inácio Lula da Silva.
Argunto obsevador da cena política - leitor de livros, de pessoas e de cenários - Golbery tranquilizava os companheiros de farda, afirmando que ficassem tranquilos, pois Lula nunca foi comunista. Mais tarde, durante uma entrevista, o próprio Lula trataria de confirmar a avaliação do militar, afirmando que nunca disse que era comunista. Esse terceiro mandato de Lula como presidente do país será o mais liberal possível. A prioridade hoje é a garantia do nosso arcabouço democrático - este sim, ameaçado, mas não é pelo socialismo - e assegurar o pãp para milhões de brasileiros e brasileiras que entraram nas estatísticas sombrias da fome. Na realidade, Lula é um cidadão de firmes convicções democráticas, com uma profunda sensibilidade social, construída a partir de sua experiência de vida. No momento, isso faz uma diferença abissal.
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