Há dois episódios emblemáticos envolvendo o sociólogo pernambucano Josué de Castro. São elucidativos para entendermos sobre como funciona a dinâmica dos arranjos - de caráter nada republicanos, registre-se - entre as oligarquias ou elites políticas no Estado de Pernambuco. Quando estava prestes a voltar para a província, depois de uma temporada de estudos nos Estados Unidos, o também sociólogo Gilberto Freyre, foi aconselhado por um grande amigo a não fazê-lo, pois ele não teria sossego em conviver com gente tão invejosa e maledicente. Pelo andar da carruagem política, ou a julgar pelos problemas enfrentados pelo sociólogo no Estado, pode-se concluir que este era, de fato, um grande amigo. Tentou poupar o autor de Casa Grande & Senzala das agruras que ele enfrentaria mais adiante.
Mais, voltemos ao outro sociólogo,o pensador da fome no país, sempre tão atualizado, uma vez que nunca enfrentamos, de fato, o problema. Parece-nos que a discussão do blog, no dia de hoje, irá se limitar a esta área do conhecimento. Pois bem. Havia uma possibilidade concreta dele assumir um ministério no Governo João Goulart, por indicação do antropólogo Darci Ribeiro. Darci pediu por tudo para que ele não contasse a ninguém. Vaidoso, Josué de Castro não se conteve e espalhou a notícia, sendo boicotado por gente de sua própria agremiação partidaria, o PTB. Acabou não sendo nomeado ministro.
Numa outra oportunidade, o cineasta do realismo italino, Frederico Fellini, veio até o Recife com o propósito de transfomar em filme um livro de Josué de Castro, a Geografia da Fome. Como, com raras exceções - Lula é uma delas - quem aborda este assunto não costuma passar fome, tratou logo de experimentar a famosa galinha à cabidela servida no Buraco da Otília, um restaurante famoso que existia na Rua da Aurora. Existem muitas controvérsias em torno do assunto - deu até dissertação de mestrado - mas, curiosamente, depois de estabelecer um diálogo com um outro sociólogo - que morria de ciúmes de Josué de Castro - o cineasta desistiu da empreitada. O filme acabou não saindo.
Os dois exemplos ilustram bem os problemas da inveja, das intrigas, das maledicências aqui na província. A coisa é tão grotesca que até os interesses regionais são negligenciados diante dessas intrigas. Os socialistas, por exemplo, preferem apoiar um nome de fora, apenas para não verem seus desafetos provincianos se destacarem no cenário nacional. Na base aliada de Lula, especula-se que o Solidariedade poderá indicar um nome para o ministério no futuro governo. Caso isso se confirme, o nome mais cotado seria o de Marília Arraes - ex-candidata ao Governo do Estado pelo partido nas últimas eleições - por sinal, sem arestas junto ao morubixaba petista, que, certamente, aceitaria, de pronto, o seu nome. A pergunta que se faz é: será que os seus desafetos locais, inclusive com gente no próprio Gabinete de Transição, vão aceitar, de boa, tal indicação. Fica a dúvida.
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