No dia de ontem, um dos envolvidos nas tessituras golpistas do dia 08 de janeiro passou um período de mais de oito horas em depoimento, o que começou a suscitar a possibilidade de ele ter aberto o bico e começado a cantar o que sabe sobre as urdiduras da trama contra as nossas instituições democráticas. Hoje, essas premissas começam a tomar corpo e setores da imprensa repercutem que o passarinho começou a cantar. Vamos torcer que seja o canto de uma araponga, essa magnífica ave da Mata Atlântica.
Essa ave exerceu um fascínio tão marcante em nossa infância que, quando escrevemos nosso primeiro romance, Menino de Vila Operária - que traz alguns elementos autobiográficos - confessamos nossa saída da escola para ouvir o seu canto, na casa de um cidadão que mantinha uma delas em cativeiro. Mesmo em tais circunstâncias, ela sempre regozijáva-nos com os seus cantos estridentes e igualmente encantadores.
É preciso entender que o silêncio, em algumas situações, pode se constituir num elemento incriminador ou de confissão de culpa. Dependendo dos rumos das investigações, o indivíduo pode ser responsabilizado individualmente, livrando a cara dos reais responsáveis pelos delitos. Os chamados peixes graúdos. É mais ou menos este o caso do passarinho que começou a cantar. Ele fazia parte de uma nebulosa engrenagem. A engrenagem é tão pervesa que esses atores fizeram o impossível para se manter no poder, temendo as revelações dos seus estertores.
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