O artigo de Mauro Mota é sobre a meninice do sociólogo Gilberto Freyre, quando ele passava as férias escolares no Engenho São Severino dos Ramos, que pertencia aos seus avós maternos, localizado na cidade de Palmares, Zona da Mata Sul do Estado de Pernambuco. Apesar de ter nascido em perímetro urbano, a experiência de Gilberto Freyre com o meio rural não é nada desprezível. Seu avô paterno era um ilustre senhor de engenho, comissário do açúcar, da fina flor da aristocracia açucareira do Estado de Pernambuco.
Segundo o poeta, de quem Gilberto era amigo e confidente, em um cardeninho de anotações, o futuro sociólogo tomava nota de tudo, em diálogos constantes com os moradores locais, os senhores da Casa-Grande, os trabalhadores do eito, as mucamas que realizam trabalhos domésticos. Tinha um interesse particular pelas receitas e, principalmente, pelos padrões de relações estabelecidos entre senhores e escravos, gênese do que ficaria conhecido mais tarde como equilíbrio entre antagonismo. Ali estava, naquele caderninho de anotações, segundo o poeta, o embrião de sua obra-prima, o livro Casa Grande & Senzala.
A relação entre o poeta e o sociólogo era de profunda cumplicidade. Mauro Mota foi indicado por Gilberto para assumir o IJNPS em circunstâncias políticas bastante específicas. Até então, Mauro Mota era essencialmente um grande poeta, mas teve a confiança de Gilberto para dirigir um instituto de pesquisas cientíticas. Para se adequar ao novo status, o poeta mudou, inclusive, o seu lugar de sujeito, passando a se apresentar com as credenciais de um pesquisador que havia realizado uma pesquisa importante sobre o cajueiro nordestino, tese de livre docência para seu ingresso no tradicional Ginásio Pernambucano.
Outro texto foi produzido por uma socióloga, que observa que as condições históricas da sociedade brasiliera, fomentaram a eclosão do bolsonarismo entre nós, ou seja, as condições ou chocadeira do ovo da serpente já existiam, carecendo, tão somente, de alguém que pudesse acionar o gatilho (exemplo bem ao gosto do bolsonarismo). Sociedade desigual, racista, de perfil autoritário e permeável ao genocídio. Esta advertência da professora vinha a propósito da enorme quantidade de estudos que tinham como objetivo discutir as causas do surgimento do bolsonarismo entre nós.
Jair Bolsonaro, como se sabe, lidera uma enorme comitiva, estimada em mais de cinquenta pessoas, para prestigiar a posse do seu amigo argentino, Javier Milei, festejado hoje como um expoente da extrema-direita no continente. Por questões de ordem legal, tratou de comunicar ao Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, que irá se ausentar-se do país. O ex-presidente, que passou um período acabrunhado, voltou a tomar gosto pela atividade política está, como se diz aqui no Nordeste, de vento em popa. Vai às ruas, despacha como presidente de honra do PL, aconselha a sua base aliada a se posicionar em votações importantes no Congresso.
Sobre a sabatina de Flávio Dino, segundo um bem-informado colunista, Bolsonaro chegou a sugerir até algumas perguntas durante a sessão. Em declaração recente, afirmou que o pulso das ruas é o mesmo de 2018, quando conseguiu se eleger Presidente da República. Pelos seus cálculos, o PT vai tomar uma surra nas eleições municipais de 2024 e em 2026, quando teremos novas eleições presidenciais. Para o próximo dia 10\12, está programada uma mobilização de bolsonaristas em Brasília, segundo dizem, para protestar contra a indicação de Flávio Dino à Suprema Corte.
Salvo melhor juízo, talvez estejamos aqui diante de um fato inusitado, ou seja, pela primeira vez no país irá ocorrer uma mobilização de rua contra a indicação de alguém para o Supremo Tribunal Federal. Depois de Javier Milei levantar a bola do bolsonarismo na região, perguntamos por aqui, mais de uma vez, quem seria o nosso futuro Javier Milei, ou seja, quem, no escopo do bolsonarismo, poderia se apresentar às urnas nas eleições de 2026, com a sua plataforma e seus símbolos.
Entre os habilitados, considerando-se a inelegibilidade do capitão, estaria o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ex-Ministro de Infraestrutura do Governo Bolsonaro, de perfil eminentemente bolsonarista radical. Um fato que tem sido curioso, no entanto, é que a massa ensandecida que acompanha Bolsonaro nas ruas, entoa sempre o bordão: Volta, Bolsonaro. Sinceramente? Não sabemos como vamos nos arranjar por aqui. Um cursinho rápido sobre inelegibilidade e democracia representativa faria bem aos bolsonaristas mais entusiasmados? Já que eles gostam do termo, quem sugere o Volta, Bolsonaro, não está jogando dentro das quatro linhas de uma democracia representativa. Há de se perguntar o que eles estão sugerindo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário