pub-5238575981085443 CONTEXTO POLÍTICO. : Editorial: A geografia do fascismo no Brasil
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quarta-feira, 10 de maio de 2023

Editorial: A geografia do fascismo no Brasil



Quando, pelos idos da década de 70 do século passado, o filósofo francês Michel Foucault resolveu voltar ao Brasil, escolheu o Recife por entender que aqui na província pernambucana seria menos perseguido pelos algozes da Ditadura Militar instaurada no país com o golpe civil-militar de 1964. Um grave equívoco de avaliação, pois o Estado esteve no epicentro das investidas de caráter golpista desde o início, por abrigar intensas movimentações populares, estudantis e sindicais, seja no campo, seja no perímetro urbano. 

Àquela época, possivelmente Pernambuco era o Estado mais vigiado da federação, graças a presença de nomes como Gregório Bezerra, Francisco Julião e o Dr. Miguel Arraes. Continuaria mantendo esse perfil nos anos subsequentes, o que produziu, como reflexo, uma recepção fria ao filósofo francês. Até um jantar, que alguns abnegados professores da UFPE haviam programado, deixou de ser realizado, pois os convidados, um a um, declinaram do convite. 

Essas observações iniciais vêm à propósito de entrevistas e pronunciamentos de um ministro da Suprema Corte acerca da origem do ovo da serpente do fascismo no Brasil. A conclusão do ministro é que a chamada República de Curitida é a responsável direta pela ascendência de Jair Bolsonato ao Palácio do Planalto. Nada que em tese não se soubesse, uma vez que até o candidato preferido dos eleitores brasileiros e brasileiras foi preso, num processo nebuloso, impedido de participar daquelas eleições. 

O mais grave é a engrenagem que moeu aquela operação, utilizando-se de métodos medievais, aplicando as chamadas torturas do século XXI em algumas aspectos, mais danosas do que as torturas físicas do século passado. A gente sempre tem uma tendência a olhar a geografia do fascismo no país a partir do Rio de Janeiro. Agora, começamos a mudar esse ângulo de visão, a partir das observações do ministro, ou seja, a grande chocadeira talvez estevesse mesmo em Curitiba, no Estado do Paraná. Tal operação, criada com a narrativa de combate à corrupção no país, é algo que deve ser completamente dissecada, criando as condições institucionais para que ela não se repita. 

Se o ministro se saiu muito bem na entrevista concedida ao programa Roda Viva, seu pronunciamento de hoje deve ficar nos anais da STF como uma grande aula de republicanismo, à luz do Estado Democrático de Direito, do respeito às normas constitucionais, da defesa intransigente dos princípios democráticos, contra o obscurantismo e as trevas do retrocesso autoritário. Um discurso não para ser mantido nos anais da Casa apenas, mas para vir a público, como uma convocação da população brasileira contra as investidas da extrema direita. Não podemos errar por aqui. Veja-se o que está ocorrendo no Chile. Eles continuam ativos.  

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