Esses temas sempre suscitam algumas controvérsias, mas, a rigor, a História indica que a origem da polícia no país está intrinsecamente relacionada aos famosos capitães do mato, aquele grupo miliciano de então, financiados pelos senhores de engenhos e fazendeiros para perseguirem e prenderem os negros fugitivos das lavouras de cana-de açúcar, em princípio, das fazendas de café posteriormente. Não seria improvável que outros historiadores possam apontar outras referências sobre a origem de tal instituição, mas, com certeza, esta versão é uma das mais próximas da realidade.
Nos dias atuais, isso poderia explicar, por exemplo, porque um número tão significativo de negros são mortos em ações policiais ou cumprem pena nas penitenciárias brasileiras, em proporções escandalosamente bem maiores do que os de raça branca. Somete aqui em Pernambuco, num desses anos - salvo melhor juízo em 2022 - espantosamente, todos os mortos em ações policiais eram negros. Aqui em Pernambuco, igualmente, pelas razões históricas do longo processo de escravização e hegemonia política das velhas oligarquias no exercício do poder, forjou-se um aparato policial muito mais identifcado com o aparelho de Estado do que com a sociedade a quem deveriam servir.
Pelo andar da carruagem política - e tomando como referência o ocorrido recentemente no Rio Grande do Sul, quando integrantes da Guarda Militar prenderam um motoboy negro que havia sido vítima de uma tentativa de assassinato por um homem branco - é possível que possamos generalizar essa análise no tocante ao perfil ou características do policial brasileiro. O caso alcançou enorme indignação da população, o que levou a Corregedoria da Brigada Militar a investigar as razões da prisão da vítima e não do agressor.
Segundo os últimos informes sobre o caso, o motoboy Everton Henrique já teria sido liberado. Agora compete à Corregedoria da Brigada Militar apurar as circunstâncias de uma abordagem policial, em princípio, desastrosa. Recentemente, o país passou por uma experiência política de perfil protofascista que apenas aguçaram essas idiossincrasias ou aberrações latentes à nossa formação histórica. O aparato policial, por razões óbvias, foi sensivelmente atingido pelo discurso de ódio que alimenta essas patologias políticas. O ônus a ser pago pela sociedade é muito alto.
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